Fernando, além de Pessoa: publicitário, astrólogo, crítico literário, inventor, empresário, tradutor, correspondente comercial, filósofo, comentarista político e acima de tudo, um poeta português para o mundo. Um gênio literário lusitano, amante do vinho. “Boa é a vida, mas melhor é o vinho” é uma de suas citações metaforizando a bebida e a existência. No seu poema a seguir, como bem disse a sommelier e filósofa Viviana de Oliveira em Vintologias, “um mundo imaginário vivido dentro de um quadro onde o vinho tem uma presença importante como agente de uma grande ilusão, e onde nada do mundo “real” nos importa, justamente por esse ter perdido sua magia”.
Bocas Roxas
Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.